António Celestino — António Simões Celestino da Silva, de seu nome completo — nasceu na Vila da Póvoa de Lanhoso no dia 24 de Maio de 1917, filho de Júlio Celestino da Silva e de D. Virgínia das Dores Simões Veloso de Almeida.
Em 1918 seu pai, comerciante local,
ex-presidente da Câmara e comandante dos Bombeiros Voluntários morre, vitimado
pela Pneumónica, doença que nesse mesmo ano ceifa milhares de vidas em
Portugal. O pequeno António, com um ano de idade, é levado por D. Virgínia para
a multisecular Casa do Ribeiro de São João de Rei, propriedade da família
materna há quatro séculos. Ali dá os primeiros passos sob o olhar atento da
mãe, das tias e do avô João José Simões Veloso de Almeida. Ali cresce, livre
como os pássaros numa pequeníssima aldeia do interior minhoto.
A partir de 1923 frequenta a escola
primária da vizinha freguesia de Monsul, depois de ter aprendido as primeiras
letras com a mãe através da Cartilha de João de Deus. Em 1927, passa a estudar
em Guimarães, onde frequenta o Liceu Martins Sarmento e, a partir de 1930,
matricula-se e muda-se para o Liceu Sá de Miranda, em Braga.
Porém, o futuro do jovem,
descendente de uma família com pergaminhos e enormes propriedades agrícolas,
mas sem grandes dinheiros, não se adivinhava fácil e, apesar da «oposição do
coração materno» (Celestino era filho único...) em 1939 parte para o Brasil
onde, na cidade do Rio de Janeiro, começa a trabalhar como funcionário do
“Banco Irmãos Guimarães”. Anos mais tarde e depois de muitos sacrifícios e
canseiras, Celestino ascende ao cargo de director, transferindo-se para a
Bahia, onde vai chefiar a filial daquela cidade.
Ali se casa com D. Cândida Rosa
Leal, descendente de uma família tradicional baiana, união da qual nascem as
suas três filhas: Virgínia Maria, Maria da Luz e Maria do Carmo, que tem também
um percurso no campo das letras. Entretanto, é destacado para dirigir a sucursal
de Recife, voltando depois à sede, no Rio de Janeiro. Mas o seu futuro estava
traçado para a cidade do Salvador da Bahia de Todos os Santos, onde voltaria
meses depois para não mais se ausentar, a não ser, muito tempo depois, quando
decidiu regressar definitivamente à sua terra natal.
Na Bahia, influenciado pelo mítico
ambiente da antiga capital da província portuguesa do Brasil, António Celestino
envolve-se na vida social e intelectual da cidade e faz amigos fraternais como
Jorge Amado e Zélia Gattai, Vinícius de Morais, Carybé, Dorival Caymmi,
Floriano Teixeira, Sonia Castro, Jorge Calmon, Mário Cravo, Raimundo de
Oliveira, Carlos Bastos, José Calazans, Fernando Sabino, Ariovaldo Matos,
Calazans Neto, Mário Cravo, Renato Martins, Arivaldo Boaventura, Mercedes Rosa,
Pierre Verger, João Ubaldo Ribeiro ou o português Agostinho da Silva — que ali
estava instalado como professor da Universidade Federal. Passa a escrever
regularmente na «Tribuna da Bahia» crónicas sobre arte. Torna-se presidente do
Museu de Arte Moderna da Bahia, do Hospital Português, do Instituto de Cegos,
do Gabinete Português de Leitura, Conselheiro-Fundador do Instituto Brasileiro
de Oftalmologia e Prevenção da Cegueira, Mesário da Ordem Terceira de S.
Francisco, Curador da Fundação-Casa de Jorge Amado. A convite da direcção do
jornal passa a ter espaço cativo no diário «A Tarde». Fruto das suas ligações a
instituições culturais, encaminha para a Bahia grandes intelectuais portugueses
de quem se torna amigo: Vitorino Nemésio, Gaspar Simões, Jorge de Sena,
Fernando Namora, David Mourão-Ferreira, J. M. Santos Simões, Alçada Baptista...
Pelas suas casas baiana e minhota passam grandes escritores, pintores, músicos
como Gabriel García Márquez, Mário Vargas Llosa, Fernando Assis Pacheco, Júlio
Pomar, Nuno Lima de Carvalho, José Hermano Saraiva, George Calmon, J. M. Santos
Simões, Luís Forjaz Trigueiros, Narciso José, Luís Macedo Costa, Miguel Calmon,
Cargaleiro, Dário Castro Alves, Rodolfo Teixeira, José Dias Humberto Castro
Lima, Norberto Odebrechet, José Franco, Raimundo Perazzo, Thales Azevedo,
Vivaldo Costa Lima, Reynaldo dos Santos, José Narciso, Neves e Sousa ou
Frederico de Freitas.
Convidado para a direcção do Banco
Económico da Bahia, introduziu no Brasil o financiamento bancário para a compra
de obras de arte. Viúvo e algo cansado, retira-se da banca, em 1985,
regressando a Portugal onde, na Velha Casa do Ribeiro, que entretanto adquiriu
ao tio Padre José Carlos, passa a residir. Em férias, volta à Bahia várias
vezes, onde vem a casar, em segundas núpcias, com a professora Maria da Conceição
Oliveira. É personagem, entre outros, de vários romances de Jorge Amado.
José Abílio Coelho, Maio de 1997