terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Texto para a “orelha” de um livro de António Celestino

À esquerda, na fotografia, António Celestino, no fim de um jantar no restaurante Bachus em Lisboa. Seguem-se-lhe Rosarinha e Fernando Assis Pacheco, Carminha Ruela Ramos, Zélia Gattai, José Abílio Coelho e Jorge Amado


António Celestino — António Simões Celestino da Silva, de seu nome completo — nasceu na Vila da Póvoa de Lanhoso no dia 24 de Maio de 1917, filho de Júlio Celestino da Silva e de D. Virgínia das Dores Simões Veloso de Almeida.
Em 1918 seu pai, comerciante local, ex-presidente da Câmara e comandante dos Bombeiros Voluntários morre, vitimado pela Pneumónica, doença que nesse mesmo ano ceifa milhares de vidas em Portugal. O pequeno António, com um ano de idade, é levado por D. Virgínia para a multisecular Casa do Ribeiro de São João de Rei, propriedade da família materna há quatro séculos. Ali dá os primeiros passos sob o olhar atento da mãe, das tias e do avô João José Simões Veloso de Almeida. Ali cresce, livre como os pássaros numa pequeníssima aldeia do interior minhoto.
A partir de 1923 frequenta a escola primária da vizinha freguesia de Monsul, depois de ter aprendido as primeiras letras com a mãe através da Cartilha de João de Deus. Em 1927, passa a estudar em Guimarães, onde frequenta o Liceu Martins Sarmento e, a partir de 1930, matricula-se e muda-se para o Liceu Sá de Miranda, em Braga.
Porém, o futuro do jovem, descendente de uma família com pergaminhos e enormes propriedades agrícolas, mas sem grandes dinheiros, não se adivinhava fácil e, apesar da «oposição do coração materno» (Celestino era filho único...) em 1939 parte para o Brasil onde, na cidade do Rio de Janeiro, começa a trabalhar como funcionário do “Banco Irmãos Guimarães”. Anos mais tarde e depois de muitos sacrifícios e canseiras, Celestino ascende ao cargo de director, transferindo-se para a Bahia, onde vai chefiar a filial daquela cidade.
Ali se casa com D. Cândida Rosa Leal, descendente de uma família tradicional baiana, união da qual nascem as suas três filhas: Virgínia Maria, Maria da Luz e Maria do Carmo, que tem também um percurso no campo das letras. Entretanto, é destacado para dirigir a sucursal de Recife, voltando depois à sede, no Rio de Janeiro. Mas o seu futuro estava traçado para a cidade do Salvador da Bahia de Todos os Santos, onde voltaria meses depois para não mais se ausentar, a não ser, muito tempo depois, quando decidiu regressar definitivamente à sua terra natal.
Na Bahia, influenciado pelo mítico ambiente da antiga capital da província portuguesa do Brasil, António Celestino envolve-se na vida social e intelectual da cidade e faz amigos fraternais como Jorge Amado e Zélia Gattai, Vinícius de Morais, Carybé, Dorival Caymmi, Floriano Teixeira, Sonia Castro, Jorge Calmon, Mário Cravo, Raimundo de Oliveira, Carlos Bastos, José Calazans, Fernando Sabino, Ariovaldo Matos, Calazans Neto, Mário Cravo, Renato Martins, Arivaldo Boaventura, Mercedes Rosa, Pierre Verger, João Ubaldo Ribeiro ou o português Agostinho da Silva — que ali estava instalado como professor da Universidade Federal. Passa a escrever regularmente na «Tribuna da Bahia» crónicas sobre arte. Torna-se presidente do Museu de Arte Moderna da Bahia, do Hospital Português, do Instituto de Cegos, do Gabinete Português de Leitura, Conselheiro-Fundador do Instituto Brasileiro de Oftalmologia e Prevenção da Cegueira, Mesário da Ordem Terceira de S. Francisco, Curador da Fundação-Casa de Jorge Amado. A convite da direcção do jornal passa a ter espaço cativo no diário «A Tarde». Fruto das suas ligações a instituições culturais, encaminha para a Bahia grandes intelectuais portugueses de quem se torna amigo: Vitorino Nemésio, Gaspar Simões, Jorge de Sena, Fernando Namora, David Mourão-Ferreira, J. M. Santos Simões, Alçada Baptista... Pelas suas casas baiana e minhota passam grandes escritores, pintores, músicos como Gabriel García Márquez, Mário Vargas Llosa, Fernando Assis Pacheco, Júlio Pomar, Nuno Lima de Carvalho, José Hermano Saraiva, George Calmon, J. M. Santos Simões, Luís Forjaz Trigueiros, Narciso José, Luís Macedo Costa, Miguel Calmon, Cargaleiro, Dário Castro Alves, Rodolfo Teixeira, José Dias Humberto Castro Lima, Norberto Odebrechet, José Franco, Raimundo Perazzo, Thales Azevedo, Vivaldo Costa Lima, Reynaldo dos Santos, José Narciso, Neves e Sousa ou Frederico de Freitas.
Convidado para a direcção do Banco Económico da Bahia, introduziu no Brasil o financiamento bancário para a compra de obras de arte. Viúvo e algo cansado, retira-se da banca, em 1985, regressando a Portugal onde, na Velha Casa do Ribeiro, que entretanto adquiriu ao tio Padre José Carlos, passa a residir. Em férias, volta à Bahia várias vezes, onde vem a casar, em segundas núpcias, com a professora Maria da Conceição Oliveira. É personagem, entre outros, de vários romances de Jorge Amado.

José Abílio Coelho, Maio de 1997