O deslizar da caneta sobre o papel gomado provocava um estranho ruído, que lhe fazia lembrar o tempo em que, menina ainda, caminhava sobre ramos secos do quintal. Há mais de uma hora que Marta ali se entretinha a escrever aquela carta, dizendo à filha tudo o que quisera e não pudera dizer-lhe de viva voz.
Foi com um triste sorriso que colocou o ponto final. Está dito, pensou.
Dobrou cuidadosamente as três folhas escritas dos dois lados e meteu-as no envelope do mesmo papel.
Cerimoniosamente, levou o envelope à boca, humedeceu levemente a cola da orelha e fechou o envelope. Poisou-o sobre a mesa da sala, onde acabara de escrever a carta.
Só então se lembrou que não sabia para onde a mandar. A filha saíra de casa há três anos, a não voltara a dar sinal de vida.
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