sábado, 16 de abril de 2011

Roupas

A moça, quinze anos mal-feitos, entrou na loja com o à-vontade de quem tem mais de trinta.
Pediu uma peça de roupa. Depois outra. Outra e outra ainda, dúzias delas. Mirou-se ao espelho de frente, de lado, de viés...
Vestiu, tirou, tirou, vestiu.
Nenhuma das peças que a funcionária da loja trouxera lhe parecia bem. Queria algo assim... como... bem, assim...
Mas não havia nada assim.
A moça reclamou:
— Só aqui têm coisas de mau gosto!
Saiu, a carteira pendurada no braço, o cigarro pendurado no dedo, à espera de fogo, a desilusão pendurada nos lábios...

À noite, na divisão pequena e pobre do casebre onde habitava, olhou pela janela a rua sem pavimento, escura e suja. Deserta. E pensou como seria bom ter um quarto bem mobilado, de paredes secas e limpas, uma cama aconchegada e uma casa de banho completa onde pudesse maquilhar-se.